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Chovia intensamente lá fora

  • Foto do escritor: carolinapessoajorn
    carolinapessoajorn
  • 21 de set. de 2024
  • 2 min de leitura

Chovia intensamente lá fora. Eu queria fazer um fluxo de pensamento. Mas meu cérebro estava travado, empacado, ao lado do Caminho do Artista, atrás de um copo com um cigarro velho. Na TV baixinho notícias de desgraças diversas, toda uma lista de “bondades” e bobagens que o jornalismo nos oferece cotidianamente. Uma bala perdida em uma comunidade, o lançamento de um prêmio qualquer ou o resultado do PIB.


Desço as escadas, pego um café, e tomo um chá. Preciso despertar, mas ao mesmo tempo manter a calma. Ser escritor é difícil, mas é a única coisa que penso que sei fazer. Vejo um sutiã atrás da almofada em cima do sofá e me lembro de roupa acumulada pra lavar. Um vento frio atravessa a janela. O gato mia agudamente, esqueci a ração desde ontem. Esqueci também de pensar no último amor perdido, o que por si só já é um alívio, se não me lembrasse agora.


Pego o celular, confiro mensagens, nada de novo. Tento voltar para o computador, não está fácil. Abro a janela para ventilar as ideias, os respingos caem, desisto. Fico no escuro do fim da tarde. Tento pegar o Caminho, mas é chato tanta meta. A Tv me distrai com mais uma morte violenta, me lembro da do meu pai na porta de casa em um dia de jogo de futebol.


Torcidas desorganizadas.


O estômago ronca, hora da fome. Sinto medo de eu ser apenas um relógio biológico, minha pretensa sabedoria escorrendo nada criativa. Seria um corpo robótico? 


Enfim, como, bebo, renovo o cigarro do copo. Me lembro de velhos amigos. Da família distante. Do meu diagnóstico. Não quero sofrer, preciso ser prática. Ponho então a roupa na máquina. Faço exercícios físicos, limpo uma mancha de extrato de tomate na tolha de mesa. E me ponho inesperadamente a escrever sobre tudo isso, em uma espécie de exercício de páginas matinais, só que no fim da tarde. O texto é confuso, como se vomitado por uma criança com verminose. Será que é isso mesmo que me faz feliz?


São muitas perguntas sem respostas. Enquanto isso, escuto A Tempestade, do Legião Urbana. Tudo em uma hora.


E chovia intensamente lá fora.

 
 
 

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