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FUGA

  • Foto do escritor: carolinapessoajorn
    carolinapessoajorn
  • 2 de jun. de 2022
  • 2 min de leitura

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Acordo indisposto, tarde, atrasado. Tomo meu café, amargurado. Depois um banho. Mais café. A mente parece parada, vazia, lerda. Talvez efeito dos comprimidos. Lembro-me então que ela havia me dito para diminuir.


Pego a chave do carro e tento não me lembrar disso. Saio concentrado. Ou pelo menos, tento. Coloco um som no rádio, para distrair.


Fuga.


Sigo o caminho. Paro no sinal. Olho o celular. Uma mensagem sua. É como o inferno na terra. Não sei se fico feliz ou se quebro o aparelho. Entro no trabalho. Quase todos com covid. Recebo mais notícias de pessoas próximas com a doença.


E mais uma vez uma mensagem sua: “já fez seu teste”?


Corro para o banheiro. Tiro a máscara. Lavo o rosto.


Fuga.


Não quero responder. Mas dói o silêncio. Tento iniciar algo. Mas você é teimosa, rancorosa, só sabe discutir. “Caramba, como eu te odeio”.


Vou almoçar. Hoje tem comida japonesa. Meu Deus, porque está fazendo isso? Me deixa quieto. Não resisto ao hot filadelfia, que você tanto adorava. Decido engolir um sanduíche na padaria mesmo e volto para o trabalho.


Fuga.


Prossegue o dia. Começa a cair a tarde. Vou embora. Mais uma mensagem. Agora você mudou, parece que não quer mais brigar. Fico perdido. Estou perdido. Até quando estarei?


Queria parar de pensar em você, mas não consigo…


Tenho 430 outras preocupações. E ainda preciso cuidar de mim. Desligo o celular.


Fuga.


Chego em casa. Como qualquer coisa. Mais um banho. Roupa velha de pijama. Vejo TV. Começa a novela que adorávamos ver juntos.


Mas caramba, como eu continuo pensando em você!


Tomo um remédio para relaxar.


Fuga.


Onze horas. Sinto seu cheiro na fronha que ainda não lavei. Desisto de lutar contra o pensamento. Penso, sinto, e dói novamente. Sinto sua falta, mas simplesmente não consigo. Preciso ficar só.

 
 
 

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